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Tribunal Regional do Trabalho 9ª Região

Página gerada em: 19/04/2024 21:24:53

Café Filosófico do TRT-PR discute efeitos da organização do trabalho sobre magistrados e servidores

Notícia publicada em 28/06/2022
Os autores debatem com a plateia

O livro “Justiça em Corpos” foi lançado no Café Filosófico do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-PR), na última sexta-feira (24/6), no Casarão Rio Branco (sede do TRT-PR). A obra busca compreender os processos de adoecimento entre magistrados e servidores e a relação entre a saúde e os modelos de gestão e avaliação quantitativos aplicados ao trabalho no Poder Judiciário.

Composto por artigos de diversos autores, “Justiça em Corpos” foi apresentado pelos quatro coordenadores da pesquisa realizada no TRT-PR que integra o livro: o juiz do TRT-PR Leonardo Vieira Wandelli, o médico ergonomista Laerte Idal Sznelwar e as servidoras do TRT-PR Luciana Nunes da Motta Tavares e Thais Almeida.

Ao abrir o evento, a presidente do TRT-PR, desembargadora Ana Carolina Zaina, declarou que o livro provoca reflexões sobre felicidade e decisões tomadas. “A obra que conheceremos hoje investiga o sofrimento físico e psíquico gerado em nosso próprio trabalho e as decisões que o potencializam. Entendemos que tudo são escolhas, portanto, tudo pode ser diferente”, declarou.

Para o médico Laerte Idal Sznelwar, o trabalho não é neutro, pois sempre modifica tanto o meio quanto o próprio trabalhador. Portanto, tudo depende do sentido e do direcionamento que se dá às atividades laborais e de como isso é percebido por quem trabalha. “O título do livro em si é uma provocação a um modelo de gestão fundamentado em quantidades, pois a ‘Justiça em Números’ é vivida em corpos”, declarou.

Para o médico, existe uma dissociação entre o sentido de promover a paz social fazendo justiça e a gestão organizacional baseada na avaliação do trabalho judicial por números, que observa apenas a quantidade. Laerte Idal Sznelwar afirmou que isto provoca sofrimento físico e mental em magistrados e servidores, que se “coisificam” quando passam a trabalhar em função de números, e não do sentido verdadeiro da própria instituição.

Apesar das críticas aos modelos de gestão quantitativos, todos os palestrantes ressaltaram que os números são essenciais para melhorar o Poder Judiciário, mas que eles não dão conta da complexidade da atividade da Justiça, pois há uma dimensão subjetiva que permanece ignorada.

A Pesquisa

A pesquisa que deu origem ao livro foi o tema da fala da psicóloga e servidora do TRT-PR Luciana Nunes da Motta Tavares. Ela contou que o grupo de pesquisadores foi formado na Escola Judicial do TRT-PR, por pessoas da área da Saúde e do Direito. Além disso, as investigações foram realizadas de forma qualitativa entre 2014 e 2015, envolvendo magistrados e servidores da Capital e interior, das áreas judiciárias e administrativas do TRT-PR e de 1º e 2º grau de jurisdição.

As pesquisas foram analisadas sob a ótica da Psicodinâmica do Trabalho, ramo da ciência desenvolvido pelo psicanalista francês Cristophe Dejours na década de 1980. Esta abordagem se propõe a analisar a forma com que o trabalhador lida com o sofrimento gerado pela própria organização do trabalho. “Foi uma escolha dos pesquisadores realizar uma investigação qualitativa, por meio de entrevistas individuais e grupos focais, como forma de ouvir a singularidade de cada um”, afirmou.

Magistrados e Servidores

O juiz Leonardo Vieira Wandelli e a servidora Thais de Almeida trataram respectivamente da situação de magistrados e servidores. A partir de suas apresentações, foi possível perceber o quanto o Poder Judiciário é heterogêneo não apenas nas atividades realizadas, mas na própria percepção que os seus trabalhadores têm daquilo que fazem diariamente.

O magistrado destacou que a função de um juiz não é julgar processos; julgar é apenas um dos meios para se atingirem os fins da Justiça, que dizem respeito à solução de conflitos. “Quando somos levados a romper com o sentido coletivo e individual do trabalho, trair os valores da profissão que tanto nos custou a adquirir, isso nos traz esse sofrimento ético. Um magistrado antigo que participou da pesquisa falou algo que sintetiza essa perda de sentido quando disse que ‘deixou de ser juiz quando passou a priorizar a quantidade sobre a qualidade’”, comentou.

Em sua fala, a servidora Thais destacou que, enquanto magistrados têm uma vivência mais direta do sentido do próprio trabalho, os servidores constroem este sentido de forma fragmentada e indireta. Portanto, o risco de o trabalho produzir alienação é alto. “Para os servidores ouvidos na pesquisa, o sentido do trabalho está na confiança do papel da instituição para o jurisdicionado, para a sociedade. Quando não se percebe mais este efeito do próprio trabalho na sociedade, o sentido se perde”, destacou.

O Café Filosófico é uma realização do TRT-PR, por meio de sua Presidência e da Escola Judicial, em parceria com a Associação dos Magistrados Trabalhistas da 9ª Região (AMATRA IX - Paraná).