Pesquisa identifica trabalhos essenciais no TRT-PR que são invisíveis para métricas tradicionais de desempenho
Um estudo que busca identificar trabalhos essenciais para o funcionamento do tribunal, mas invisíveis para os indicadores tradicionais de desempenho, divulgou resultados na sexta-feira (12), em evento transmitido pelo canal do TRT-PR (aqui).
Os integrantes do grupo de pesquisa dos magistrados, vinculado à Escola Judicial e coordenado pelo desembargador Arion Mazurkevic, presidente do TRT-PR, usaram a audiência como objeto de estudo, por ser considerada uma etapa crucial dos processos.
Nesse contexto, para os juízes, os "trabalhos invisíveis" compreendem habilidades para extrair das pessoas que depõem as informações relevantes, a mediação de conflitos que surgem entre os participantes, a gestão de emoções e uma série de decisões técnicas tomadas em tempo real.
Para os servidores, são a pesquisa de jurisprudência, o alinhamento técnico e de estilo com magistrados, o ajuste de fluxos para evitar erros que possam invalidar o processo e a cooperação espontânea entre equipes.
Com a divulgação dos resultados, o TRT-PR quer aprofundar o debate sobre formas mais adequadas de avaliar e valorizar o trabalho realizado no Judiciário. Hoje, as métricas usadas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) olham para o número de decisões, mas não medem a qualidade, o cuidado e a cooperação que sustentam o serviço público prestado nas varas e gabinetes.
"A gestão do Poder Judiciário é baseada em erro conceitual, de que o nosso trabalho é julgar processos", disse o juiz Leonardo Vieira Wandelli, titular da 11ª Vara do Trabalho de Curitiba e responsável por apresentar os resultados do grupo de magistrados e magistradas. "O problema é que o controle de decisões e a velocidade [dessas decisões] distorce o que é fazer Justiça."
De acordo com a diretora-geral do TRT-PR, Ana Cristina Navarro Lins, que apresentou os resultados do grupo de servidoras e servidores, quando o trabalho não é reconhecido, cresce o risco de um comportamento chamado de "greve de zelo" -- quando o servidor se limita a fazer o estritamente necessário para atingir as metas.
O evento contou também com a participação do conselheiro do CNJ Guilherme Feliciano e do professor Seiji Uchida, do Instituto Trabalhar, que apoiou a elaboração da metodologia. Feliciano chamou atenção para o fato de que poucos sistemas jurídicos associam produtividade numérica à progressão da carreira de magistrados e questionou se esse modelo atende ao ideal de justiça.
O evento registrou ainda uma homenagem ao professor Laerte Idal Sznelwar, fundador do Instituto Trabalhar e uma das principais referências do projeto de pesquisa. Ele morreu em 23 de novembro, aos 69 anos.
Texto: Ascom
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